Neoclássico é coisa do passado! Ou será que estamos falando grego?
Veja nossa opinião sobre o Neoclássico, e entenda porquê achamos que o lugar dele é no passado!
Ler maisImagem: Quadro A Escola de Atenas, do pintor Rafael (wikipedia.org)
É incrível notar que, muitas vezes, as perguntas mais simples são aquelas que mais dificuldade temos em responder: quem somos? Para onde vamos? Qual o sentido da vida?
Para esses casos, é válido questionar se a dificuldade de fato está na pergunta ou, quem sabe, habita na nossa resposta, que carrega a responsabilidade de representar a dimensão do nosso entendimento sobre aquilo que nos é questionado.
Sejamos honestos, esse texto não tem ambição alguma em dar sentido à existência humana – deixemos isso para filósofos como Sócrates, Platão ou Aristóteles. Aqui, estamos buscando uma explicação que dê sentido àquilo que entendemos como objeto do nosso trabalho: a arquitetura.
Para buscar uma compreensão mais completa e democrática, individualmente fizemos essa pergunta para todas as pessoas que colaboram aqui na PLUS Arquitetura. É válido já comentar que, durante as entrevistas, fator comum a todos os entrevistados foi aquele olhar de surpresa e espanto frente à pergunta que, ao menos para nós, não é nada fácil de ser respondida.
Afinal, o que é arquitetura? Como resultado, esse ensaio reúne todas as respostas para apresentá-las a você, enquanto, ao mesmo tempo, estamos também apresentando a nós mesmos.
Já vamos deixar claro que arquitetura não é só pensar na fachada – por mais que a estética seja fundamental e inerente às nossas vidas. Também não é só fazer uma planta, mesmo que esta seja um dos principais instrumentos de representação do projeto arquitetônico. Entre plantas e elevações que encontramos o dilema clássico da arquitetura: forma ou função? Qual delas deve ser prioridade no trabalho do arquiteto?
“O que é belo é bom e o que é bom depressa será também belo”, diria a poetisa grega Safo. Mas, verdade seja dita: podemos debater amiúde sobre o predomínio da estética sobre a funcionalidade; ou se o mais válido seria o contrário. Porém, essa dicotomia reducionista não consegue abranger todo o espectro dos elementos que compõem um projeto arquitetônico.
Imagem: Poetisa grega Safo (ancient.eu)
Ao projetar, sempre pensamos em todos os possíveis condicionantes do espaço: conforto, ergonomia, acessibilidade, funcionalidade, insolação, ventilação, iluminação, economia, técnica, estrutura, estética, dentre outros.
E como equilibrar tudo isso? Cada elemento, cada traço que compõe um projeto deve ser uma resposta à uma necessidade. Nada é gratuito, tudo deve ser justificado. E a justificativa deve sempre buscar a melhor vivência possível para as pessoas que irão habitar os espaços criados através da arquitetura.
Podemos também entender arquitetura como uma espacialização das necessidades humanas. Por conta disso, vemos que o que realmente importa na arquitetura não é a construção per se; importam as pessoas que farão uso de seus espaços.
Para planejar os espaços que futuramente serão cenário das vivências humanas, o arquiteto sagaz se faz mestre na condição de alteridade. Da empatia. De se colocar no lugar do outro e entender que, além da sua própria, existem infinitas formas de viver uma casa, um bairro, e uma cidade.
Podemos também pensar arquitetura enquanto um método: uma abordagem sobre um determinado problema. E ressaltamos aqui que esse método deve ser usado independente da escala do objeto.
É por isso que existe arquitetura por trás do design de uma cadeira, de uma mesa ou de uma luminária. Tem também arquitetura nos espaços que habitamos; na casa, seja ela de 400 ou de 40 metros quadrados. Aliás, diga-se de passagem, quanto menor a casa, maior a necessidade de um arquiteto para otimizar os espaços de acordo com a necessidade das pessoas.
E existe arquitetura também na escala urbana, a arquitetura da cidade, como pontua o arquiteto italiano Aldo Rossi. Indiferente à escala, o trabalho do arquiteto consiste em um modo de pensar sobre o espaço. Ao manipular os elementos da construção – os pisos, as paredes, os telhados – estamos condicionando o espaço. E é o espaço que delimita nossas vivências e se transforma no lugar que habitamos.
Imagem: Arquiteto Aldo Rossi (legacyprojectchicago.org)
Pensando dessa forma, podemos observar que existe uma relação íntima entre estruturas espaciais e estruturas sociais. Chega a ser difícil determinar o limite ao qual podemos mensurar os efeitos da arquitetura, mas o fato é que somos, queiramos ou não, constantemente condicionados pelo espaço à nossa volta.
O espaço nos limita, individualmente, assim como coletivamente. A arquitetura tem o poder de espacializar relações sociais. Logo, a noção de livre-arbítrio é uma ilusão, se levarmos em conta que a arquitetura enquanto estrutura espacial serve como molde para determinar nossas ações e movimentos.
Assim, arquitetura é a construção de conjuntos de ideais situados no tempo. Materialização de uma construção social e cultural do homem enquanto coletivo. Nas palavras do arquiteto finlandês Juhani Pallasmaa, as construções da arquitetura concretizam a ordem social, ideológica, cultural e material, conferindo-lhes forma material metafórica.
Imagem: Arquiteto Juhani Pallasmaa (spacecityseattle.org)
Os alemães fazem uso da palavra Zeitgeist para abordar um ‘espírito de época’, ou um ‘espírito do tempo’. Logo, o zeitgeist seria o resultado de uma forma de pensar coletiva, que sintetiza propriedades culturais e intelectuais de um povo em uma determinada época.
Como afirma o próprio arquiteto alemão Mies Van Der Rohe: arquitetura é a vontade de uma época, traduzida em espaço. A arquitetura pode então ser considerada a materialização do Zeitgeist. Ela é a construção material, física, que representa a construção social, cultural e imaterial de um coletivo.
Imagem: Arquiteto Mies Van Der Rohe (senplo.com.br)
Diria o arquiteto Le Corbusier. Mas, longe da perspicácia necessária para responder com uma frase, aqui estamos nós no final do texto, e a resposta ainda parece incompleta.
Imagem: Le Corbusier (workagile.uk)
Por fim, é válido comentar que na arquitetura, enquanto moldamos os espaços à nossa volta, esses espaços acabam novamente por nos moldar. Em um processo cíclico, de constante insatisfação, aprendizado e autocrítica, o olhar do arquiteto está sempre evoluindo com o tempo. Nunca está pronto.
Aldo Rossi. A arquitetura da cidade. Editora Martins Fontes, 2001.
Douglas Aguiar. Alma espacial: O corpo e o movimento na arquitetura. Editora Ufrgs, 2000.
Juhani Pallasmaa. Os olhos da pele: A arquitetura e os sentidos. Editora Bookman, 2011.
Vinicius Netto. Urbanidade como devir do urbano. Eure (Santiago), 2013.
Yi Fu Tuan. Espaço e lugar. Editora Eduel, 1905.
Por Tueilon de Oliveira
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