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Realidade virtual e a apresentação na arquitetura

09/04/2021

Uma música que lembra uma história – passada ou presente – , um cheiro que evoca uma lembrança, uma brincadeira que nos transporta diretamente à infância, uma comida que rememora a casa dos avós. Saudosismo? Não. Estamos falando de memória afetiva. Trata-se de lembranças desencadeadas por percepções sensoriais de determinados elementos. Pode ser uma música, uma cor, um cheiro, um gosto, um lugar, e até mesmo um objeto.

Espaços e percepções sensoriais. Eis duas temáticas que constituem o dia a dia do trabalho dos arquitetos. Afinal, grande parte de nossas funções consiste em projetar espaços para nossos clientes. O grande desafio imposto por essa tarefa incide justamente na apresentação. Ou seja, como esses espaços serão percebidos pelos usuários.

É preciso projetar um ambiente que traga a alma do dono e fazer ele se inspirar e se encantar por aquele lugar. Além disso, o arquiteto deve facilitar a visualização do projeto pelo cliente e fazê-lo ter um entendimento total da concepção, compreendendo o espaço com seus propósitos, dimensões e proporções.


Arquitetos reunidos, projetando

Imagem: (pixabay.com)


Evolução da representação do espaço

Concebida como a capacidade de pensar em três dimensões, ou seja, como a aptidão para resolver problemas relativos a questões de espaço, a inteligência espacial não é uma competência inata. Arquitetos costumam ter e se beneficiam dessa qualidade. O que os profissionais fazem, no entanto, é utilizar em seus projetos representações que definam de forma fiel o que idealizaram.

Na arquitetura, a representação está ligada a necessidade de revelar determinadas qualidades do espaço. Embora cada um de nós perceba o mundo a nossa volta à própria maneira, de acordo com experiências individuais, quando se trata de entender um espaço em termos de proporções, funções e dimensões, nós sempre contamos com uma ajudinha da disciplina.

Antigamente, a representação era elaborada através de desenhos com predomínio da perspectiva. Entretanto, em virtude do avanço tecnológico e técnico, a representação na arquitetura evoluiu com predomínio de novas ferramentas.


Arquiteto usando maquetes na hora de projetar

Imagem: (shutterstock.com)


Assim, conseguimos acompanhar a profunda transformação no modo de apresentar os ambientes projetados: após os famosos croquis, o processo de colagem,  que muito insipidamente tentava retratar alguma profundidade, foi adotado. Também a maquete eletrônica, o desenho tridimensional do projeto, surgiu como outra técnica que possibilitou fornecer informações para os clientes através de imagens.

Hoje podemos dizer sem medo que nunca a visualização esteve tão próxima da realidade. O mercado apresenta uma série de equipamentos e softwares que possibilitam aos profissionais fundirem as técnicas de visualização na arquitetura com a realidade virtual e aumentada.

Quem mais ganha com tudo isso? O cliente, é claro. Ele pode experimentar o espaço com um leve inclinar de cabeça. Mas é muito mais do que um experimentar. É um ‘sentir-se lá’.  Com a realidade virtual na arquitetura o cliente se transporta para o futuro que o espera.


Mulher experimentando óculos de realidade virtual

Imagem: (pixabay.com)


 

Mais velha do que você pensa

É missão quase impossível não associarmos realidade virtual à sinônimos como moderno, novo, tecnológico e atual. Porém, essa tecnologia existe há bastante tempo. O conceito de realidade virtual vem, pelo menos, desde a década de 1970.  Nessa época, o  artista digital Myron Krueger  utilizava o termo realidade artificial em seus estudos sobre combinações de computadores e sistemas de vídeos.

Já o termo realidade virtual, como nós conhecemos hoje, é de autoria de Jaron Lanier. O cientista de computação o utilizou no começo dos anos 1980 para diferenciar simulações: as tradicionais realizadas por computadores das que envolviam múltiplos usuários em um ambiente compartilhado.

A realidade virtual na arquitetura está cada vez mais consolidada entre os profissionais, que com o auxílio da tecnologia, induzem efeitos visuais e sonoros, permitindo aos clientes total imersão no ambiente simulado virtualmente. No entanto, ao longo dos anos outras áreas se apropriaram da tecnologia e expandiram seu limite.

 

Diferentes áreas: mesma tecnologia

A realidade virtual já é fato no mundo dos games. Centenas de jogos possibilitam aos seus usuários experiências como simuladores para tarefas do cotidiano e possibilidades de interação com personagens e outros jogadores.


Óculos de realidade virtual sendo utilizado em nosso escritório


A realidade virtual também vem sendo aplicada em diversas outras funções como na simulação e treino de pilotos de avião e no treinamento de militares e tratamento de soldados com transtornos pós-traumáticos de guerra. Através da tecnologia é possível proteger a integridade física dos indivíduos enquanto eles realizam as ações no ambiente simulado.

Psicólogos e médicos também têm utilizado a realidade virtual para tratamento de fobias e doenças de pacientes, alcançando resultados positivos. Na medicina, os principais usos são para tratamento da dor crônica, treinamento cirúrgico e no processo terapêutico de pacientes com fobias e transtornos.

 

Como funciona?

Na prática, o que permite que literalmente, nos sintamos dentro de determinado ambiente, cenário, game etc é um jogo de ilusão de profundidade, criado com o auxílio de duas imagens diferentes geradas (uma para cada olho) e uma ajudinha do nosso cérebro, que interpreta que essas duas imagens são na verdade uma só, forjando a profundidade dos objetos e por consequência, aumentando a sensação de realidade.

Pronto. Isso basta para que você realmente se assuste ao ser levemente empurrada por um colega quando está caminhando virtualmente no cenário do terraço de um prédio alto, mesmo sabendo que continua firme com os dois pés no chão da sala.

A tecnologia da realidade virtual começou com imagens, mas hoje também é utilizada em filmes e outros ambientes tridimensionais gerados no computador.  O usuário tem a opção de interagir ou não com o cenário e objetos ao seu redor. Isso irá depender das possibilidades do sistema utilizado.


Visualização de projetos com a realidade virtual

Imagem: (shutterstock.com)


Os óculos de realidade virtual que possibilitam a interação das pessoas com o ambiente o fazem através de imagem, que acompanha a movimentação do usuário pela cena, permitindo uma visão e interação completa com o espaço.

Algumas interfaces aceitam inclusive, que os participantes tenham interações mais complexas com o cenário, como abrir e fechar portas, observar embaixo de uma mesa, afastar o tecido de uma cortina. Com essa visualização e manipulação de representações extremamente complexas, é quase impossível não se sentir – de fato –  em um local que só existe em forma de projeção.

Para tornar mais claro o que queremos dizer, deixamos um vídeo abaixo desenvolvido pela equipe da Unreal Engine, que permite você fazer um passeio em 360 graus neste ambiente. Entre e perceba um pouquinho do espaço. Fique à vontade!



 

É preciso sentir a arquitetura

Saber ver a arquitetura é diferente de sentir a arquitetura. É justamente esse ponto que diferencia a representação por meio de plantas baixas, maquetes eletrônicas e croquis, do ambiente representado por meio da realidade virtual.

Através de um processo chamado de renderização, arquitetos transformam cenários e objetos do mundo real para o mundo virtual. O que denominamos de realidade virtual na arquitetura  é utilizada com o propósito de apresentação do projeto e tem o foco no cliente.

Por ser mais imersivo, esse método possibilita ao usuário sentir que está realmente naquele ambiente antes mesmo do início de qualquer obra. Ele também tem a possibilidade de manipular objetos, observar as texturas, o entorno.


Mulher interagindo com o espaço através da realidade virtual

Imagem: (shutterstock.com)


A apresentação também facilita a leitura e a noção dos espaços, pois permite a interação do cliente com o universo tridimensional, fazendo-o pensar além da dimensão 2D, percebendo o ambiente e os objetos através de novas noções de distância e perspectiva. (Você sabia que existe uma plataforma que possibilita a elaboração dos projetos em modelo tridimensional? Nós já falamos sobre ela  aqui no blog. É a modelagem BIM).

Imagine as seguintes cenas: em um primeiro momento você viu a sua futura casa através de uma bem elaborada planta baixa. Nela, existem todas as especificações de cada cômodo, com dimensões e desenhos em 2D da disposição dos móveis nos ambientes.

Agora, passemos ao segundo momento: você caminha pela sua futura casa. Consegue observar o bairro ao redor, sai do corredor e entra no seu quarto. Após perceber o exato tamanho do cômodo, apaga a luz, anda até a janela e afasta as cortinas para observar o quanto de claridade natural o ambiente proporciona. Em qual dos dois momentos sua casa pareceu mais atrativa e interessante?

A realidade virtual na arquitetura é interativa, imersiva e intuitiva. Auxilia profissionais no processo de apresentação e permite aos clientes uma experiência mais realista com os objetos e espaços.

 

    Por Thaís Ramos

 

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