
Neoclássico é coisa do passado! Ou será que estamos falando grego?
Veja nossa opinião sobre o Neoclássico, e entenda porquê achamos que o lugar dele é no passado!
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Imagem: shutterstock.com
Como nós já falamos por aqui, a arquitetura deve acompanhar a tecnologia e respeitar o condicionante do tempo em que está inserida. Queremos dizer que estilos arquitetônicos do passado devem ser respeitados e precisam permanecer na época em que foram criados: no passado! Sendo assim, vamos imaginar 3 grandes obras da arquitetura e engenharia modernas: o Canal do Panamá, que une os oceanos Atlântico e Pacífico; o Eurotúnel, que liga o sul da Inglaterra ao norte da França e o prédio mais alto do mundo em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o Burj Khalifa.
O que elas têm em comum? São edificações de grande escala, com um sistema construtivo muito complexo, que requerem softwares avançados para auxiliar nas várias etapas do projeto. Certamente, não foram projetadas do início ao fim à mão, em uma prancheta, usando carvão e papel, como fazia Le Corbusier.
A boa notícia é que projetar fora das pranchetas ficou mais fácil para arquitetos e engenheiros através do BIM. Sigla em inglês para Building Information Modeling, o BIM é um novo conceito de projeto para construção. Em resumo, essa modelagem da informação da construção representa de forma digital as características funcionais e físicas de uma obra.
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É comum ouvirmos que obra é sinônimo de dor de cabeça. E os motivos campeões de queixas são os atrasos e gastos maiores que os previstos no orçamento inicial. Mas, a modelagem BIM permite que a criação e a manutenção do projeto sejam aprimoradas e o progresso das atividades seja monitorado a qualquer tempo e em qualquer lugar.
Isso gera uma economia de tempo e um maior controle de todos os custos. Essa economia se deve, em parte, à possibilidade de coleta e análise de dados simplificada e integrada. Também é possível realizar um levantamento preciso dos materiais de construção, permitindo a detecção de conflitos no projeto e eliminação de erros humanos.
A transformação digital do setor da construção civil (arquitetura e engenharia) já é uma máxima em praticamente todos os países do globo. A metodologia BIM está no mundo e podemos ver presente tanto em obras públicas quanto privadas em países como Alemanha, Inglaterra, Singapura, Estados Unidos, e nos asiáticos China, Hong Kong e Emirados Árabes Unidos.
Visando acompanhar as práticas dos países que dominam o uso da tecnologia, o Brasil lançou, em 2018, uma política de implementação da metodologia BIM, que determina um prazo de 10 anos para a exigência gradual do uso do BIM em obras públicas. Santa Catarina, inclusive, foi o estado pioneiro na implantação desse sistema no Brasil. Estima-se que, conforme decreto, todas as obras públicas executadas nas cidades catarinenses comecem a utilizar o BIM a partir de 2021.
Mais do que estar alinhado às tecnologias do setor construtivo, a exigência do BIM nas obras públicas culminará na melhora dos projetos, evitando e minimizando as temidas dificuldades financeiras, técnicas e administrativas. Em um país em que obra pública significa (quase sempre) aditivo contratual, poder contar com uma tecnologia que ajude a minorar crises políticas e econômicas parece um preço justo a ser pago.
O BIM é o processo de criação de modelos de construção e, como toda metodologia, possui elementos que facilitam o uso do sistema. No BIM essa metodologia segmenta-se em dimensões, que vão do 3 ao 7D. Elas servem para que o projeto de construção seja melhor compreendido em todas as suas etapas, já que dados e informações específicas são vinculadas em cada uma das dimensões.
O BIM 3D é a primeira dimensão e provavelmente o uso mais conhecido da ferramenta. Consiste no processo de reunir e gerenciar informações (gráficas e não gráficas), permitindo a criação de um modelo 3D. A quarta dimensão está associada diretamente a um elemento muito importante no desenvolvimento de qualquer projeto: o tempo (de instalação, execução, construção etc.). É o planejamento do canteiro de obras. A dimensão 5D é um modelo de informação que usa os componentes descritos no projeto para fornecer uma análise de custos precisa. A dimensão 6D do BIM refere-se à um elemento que recebe pouco foco no momento do planejamento e execução de um projeto: o custo de toda a vida útil de uma construção, a chamada avaliação da sustentabilidade. Por fim, a dimensão 7D trata da gestão das instalações.
Mas como esse novo conceito de projeto de construção funciona? Você pode estar pensando que essa plataforma permite que se enxergue um projeto pronto, antes mesmo de ser executado. Em outras palavras, como se a obra fosse construída digitalmente, quando ainda não existe um único tijolo edificado no local. De fato, a tecnologia BIM permite isso. E vai além.
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A plataforma funciona como um banco de dados único. Isso significa que, não apenas dados gráficos, mas toda informação sobre a obra, permanece disponível para qualquer profissional envolvido no projeto acessá-la e utilizá-la em todas as etapas do processo construtivo. Para todo tipo de construção, informações como dimensões, quantidades de materiais e orçamentos, podem ser editadas e acessadas (ao mesmo tempo) por todos os profissionais envolvidos no projeto. Essa integração e centralização de informações – e das etapas da construção – gera ganhos para a produção, que aparecem na organização do trabalho, aumento da produtividade e redução de custos.
Só quem já construiu consegue visualizar com clareza o ato de realizar mudanças estruturais e a tensão de acabar descobrindo que, em um edifício, uma vaga de garagem e uma viga estrutural irão disputar o mesmo espaço, inclusive antes de as obras iniciarem. Por mais difíceis que sejam as alterações, é possível projetá-las. No entanto, antes do BIM, havia dificuldades de identificar alguns elementos com precisão e de diferenciar formas muito semelhantes.
Na plataforma, a visualização do projeto é mais apurada e essa tecnologia permite que a viabilidade de mudanças estruturais solicitadas pelos clientes seja avaliada de forma rápida e segura. Existe até uma terminologia específica que nós utilizamos: compatibilização. Compatibilizar o projeto é reunir todas as disciplinas em um modelo e verificar se há interferência entre elas. Conferir se um cano está passando por uma viga de concreto tornou-se uma tarefa menos exaustiva.
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Projetar uma obra e esperar que o cliente não irá pedir alguma alteração é uma possibilidade bem distante para arquitetos e engenheiros. Afinal, o que um dia era um sonhado closet pode virar, na semana seguinte, o almejado home office. Dizer não para os clientes não é uma opção. O que fazer? Alterar. O que o BIM faz é tornar as mudanças no meio do caminho menos complicadas, já que qualquer alteração atualiza os dados relacionados a elas de forma automática, inclusive a quantidade de materiais. A modelagem também permite especificar diversos parâmetros no projeto. Isso significa dizer que uma sala pode ser projetada com um nível de detalhamento que consiste em nomear não apenas as dimensões, mas as propriedades térmicas, acústicas, o tipo de material utilizado para construir a parede, como será o piso etc.
É consenso afirmar que o BIM é uma ferramenta que revolucionou a maneira de projetar e construir e já possui adeptos no mundo todo. As vantagens vão desde redução de custos, planejamento e execução, quanto maior assertividade e melhoria na qualidade final do projeto.
Prancheta, papel, grafite e um copo de café ao lado pode parecer uma ideia romântica ao pensarmos em um arquiteto idealizando os primeiros traços de um projeto, e, não deve ser descartada de modo algum. Mas, convenhamos: romance nenhum consegue segurar o alcance da tecnologia. Então, por que não aproveitar o melhor dos dois mundos?
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Por Thaís Ramos
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