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Hygge: o conceito que abrange a ideia de estar em casa

25/06/2021

O hygge tem tudo a ver com a forma como vivemos as coisas”

Meik Wiking


Velas acesas, um dos elementos que compõe o conceito hygge

Imagem: (unplash.com)


A língua é um organismo vivo e por esse caráter, se modifica ao longo do tempo. Constantemente, novas palavras surgem para expressar novos conceitos, ao passo em que outras deixam de ser utilizadas. Todos os idiomas possuem palavras, expressões ou frases que simplesmente não podem ser traduzidas, tornando-se plenamente compreendidas apenas no seu idioma original.

São termos usados – em sua maioria – para designar diferentes sensações, situações ou sentimentos. É o caso de saudade, ‘aquela sensação de ansiar por algo ou alguém que você ama e não está perto’, expressão que só existe no nosso português. Existem uma infinidade de outras palavras. Dentre elas podemos citar a alemã waldeinsamkeit, ‘o sentimento de solidão e conexão com a natureza ao ficarmos sozinhos em uma floresta’, a japonesa wabi-sabi, que significa ‘encontrar beleza nas imperfeições’, ou a árabe ‘ya´aburnee’, que diz respeito ao ‘desejo de morrer antes da pessoa amada’.

No rol de palavras sem tradução para outro idioma, existe um termo dinamarquês que vem sendo bastante utilizado pela arquitetura. É o hygge (lê-se hu-ga), que em português, pode ser traduzido como ‘aconchego’, mas seu significado vai muito além disso. O conceito nos sugere conforto, delicadeza e simplicidade para dentro de casa. O hygge  é uma ideia arraigada entre os dinamarqueses, que insistem que o termo é único e incapaz de ser traduzido, pois é para ser sentido.

 

A origem do hygge e o conceito de felicidade

A palavra nasceu no século 19, na Noruega, e faz parte da cultura dos países Escandinavos, mas é mais falada – e aplicada – na Dinamarca.  Ainda que não tenha tradução para o português, pode-se atribuir à hygge o significado de ‘bem-estar’. Faz sentido que essa filosofia de desfrutar e dotar de sentido e plenitude as pequenas coisas da vida seja oriunda de um dos países que figuram a lista  dos mais felizes do mundo (de acordo com relatório anual da ONU).


Dinamarca, a cidade que adota a filosofia hygge

Imagem: (pexels.com)


Não existe uma única pessoa no mundo que não esteja disposta a sentir felicidade no seu dia a dia. E um dos povos mais felizes do planeta está contagiando o resto do globo com este segredo contido em uma palavra que prega a necessidade de apreciar os bons prazeres da vida, como por exemplo, estar alegre e confortável em sua casa. Ainda que de difícil descrição, por sua característica tão abstrata, o hygge já começa a ressoar entre muitos.

Isso porque o resto do mundo parece estar aos poucos se dando conta de que essa ‘intimidade da alma’ pode torná-los tão felizes quanto os dinamarqueses. E, se o hygge torna os lares mais quentes e os corações mais felizes, vale a pena tentar adaptá-lo para o seu lar, não é mesmo? Mas o que lhe vêm à cabeça quando você pensa em palavras como aconchego, felicidade e acolhimento?

 

Um relacionamento sério com o bem-estar

Para os especialistas, o hygge pode ser encarado como uma filosofia de vida, e assim, ser aplicado em diversos momentos. Voltando à pergunta do parágrafo anterior, podemos exemplificar algumas situações que estão envoltas em um clima propriamente hygge, ou seja, primam pela tranquilidade e acolhimento.

Fazer um chá quente em frente a uma lareira, passar um dia no campo, ler seu livro preferido enrolado em uma coberta macia, acender uma vela aromática no seu quarto, e apreciar a essência antes de dormir, reunir os amigos em casa para uma bela refeição e longa conversa, regada à muito vinho.


Coberta, xícara de café e livro

Imagem: (unplash.com)


Todas essas experiências se encaixam no termo, e pelos exemplos, ficou claro que estamos tratando de prazeres muito simples. A ideia se relaciona com o ‘relaxar’ e ‘sentir-se em casa’, e esquecer as preocupações, tanto quanto possível. Esse ritual de aproveitar os pequenos prazeres da vida trata-se da escolha diária de dar uma pausa na correria e se permitir viver momentos alegres e de conforto, sem pressa e sem culpa.

Esses pequenos momentos costumam estar associados aos sentidos. Pode ser uma comida com gosto familiar, que aguça o paladar, um reconfortante ouvir os pingos da chuva ou o sopro do vento, um cheiro que traga à memória um evento ou local seguro ou o toque de um material artesanal e caseiro, como uma manta de lã ou um vaso de cerâmica. Acrescente à essa festa dos sentidos a visão de um pôr-do-sol à beira mar ou a contemplação de flocos de neve no inverno. Tudo hygge.

 

A influência do clima frio

A Dinamarca possui invernos rigorosos, longos e frios. As condições climáticas do país não favorecem a realização de atividades ao ar livre. O ambiente predominantemente nublado e cinza ocorre nas diferentes estações do ano e momentos de sol e calor no país são raros.

O fator climático reflete diretamente no comportamento da população. Durante o inverno, os dinamarqueses têm apenas quatro horas de sol por dia e as temperaturas médias giram em torno de 0º C. Por passarem muito tempo dentro de suas casas, as formas de se divertir no lar tornaram-se muito importantes. Assim, seus habitantes desenvolveram o hábito de viver bons momentos dentro dos ambientes, colocando em prática o hygge.

 

Aconchego traduzido pela arquitetura

Hygge é sobre se sentir seguro e protegido, desfrutando um espaço com pessoas amadas e/ou em sua própria companhia. E qual o melhor lugar para fornecer essa dose de intimidade e conforto do que nossa própria casa? É justamente por isso que a arquitetura de interiores adotou esse conceito dinamarquês como um estilo. (Em um texto recente do blog, discutimos acerca da importância da arquitetura de interiores. Para ler, clique aqui).


Arquitetura em estilo Hygge, que é um conceito que abrange a ideia de estar em casa

Imagem: (italianbark.com)


Espaços projetados seguindo essa tendência são lugares de memória, afetividade e felicidade, com elementos que representam sensações, conforto, segurança e comodidade. O lugar e a decoração do ambiente são pensados de modo a compor uma experiência única, com atmosfera relevante e marcante. Não à toa, o design de interiores segue sendo uma obsessão escandinava.

A arquitetura hygge preza pela união entre aconchego e simplicidade. O pré-requisito básico para ter uma casa que apresente estes princípios é criar uma atmosfera que traga prazer aos sentidos e bem-estar ao corpo inteiro.

A essência do estilo prioriza o uso de materiais naturais, como a madeira, e sua paleta é inspirada nas paisagens frias da região, com o predomínio de tons neutros. São priorizados elementos rústicos e texturas, que aparecem em tecidos e almofadas. A decoração com velas, o uso de objetos que remetam a lembranças passadas, além de itens essenciais para criar um clima de conforto, como iluminação, climatização e plantas e folhagens completam o ambiente.

A arquitetura aliada à filosofia dinamarquesa hygge é capaz de possibilitar a criação de um ambiente agradável, confortável, seguro e prazeroso, que permita momentos de alegria e felicidade e a construção de memórias que durem para sempre.

Referências:

Meik Wiking. O Livro do Hygge: o segredo dinamarquês para ser feliz. Editora Zero a Oito, 2017.

 

   Por Thaís Ramos

 

 

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